Manifestação convocada por Bolsonaro neste domingo defendeu anistia aos réus do 8 de Janeiro e atacou decisões do STF; PM optou por não divulgar estimativa de público

Foto: Flavio Florido / Estadão
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) voltou a ocupar o centro da cena política neste domingo (6), ao liderar uma manifestação na Avenida Paulista, em São Paulo, que reuniu aproximadamente 44,9 mil pessoas, segundo estimativa feita por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) e da ONG More in Common. O número, obtido com base em imagens aéreas analisadas por inteligência artificial, tem uma margem de erro de 5,4 mil pessoas, para mais ou para menos.
A manifestação, com tom de campanha e fortes críticas ao Supremo Tribunal Federal (STF), foi marcada por discursos de aliados e uma fala incisiva de Bolsonaro, que voltou a defender o projeto de lei que prevê anistia aos envolvidos nos atos antidemocráticos de 8 de janeiro de 2023.
Fala polêmica sobre 2026
Inelegível até 2030 por decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Bolsonaro discursou para milhares de apoiadores, afirmando que sua exclusão das próximas eleições seria uma ameaça à democracia.
“Eleições em 26 sem Jair Bolsonaro é negar a democracia, é escancarar a ditadura no Brasil. Se o voto é obra da democracia, a contagem pública do mesmo se faz necessária”, declarou o ex-presidente, usando colete à prova de balas, como já havia feito em atos anteriores.
Estimativas de público contrastantes
O número divulgado pelo Monitor do Debate Político no Meio Digital do Cebrap, coordenado por especialistas da USP, coincide com os dados do instituto Datafolha, que estimou 55 mil pessoas presentes no pico do evento. Em contraste, a Polícia Militar de São Paulo informou que não irá divulgar a estimativa de público, uma decisão que gerou críticas nas redes sociais e entre analistas políticos.
A presença de autoridades no ato foi expressiva. Estiveram presentes sete governadores, senadores e diversos deputados federais. O grupo político reforçou o apoio a Bolsonaro e a narrativa de perseguição institucional, amplamente repetida durante os discursos.
Comparações com ato no Rio de Janeiro
O evento na Paulista ocorre três semanas após uma manifestação semelhante em Copacabana, no Rio de Janeiro, com o mesmo mote pró-anistia. Na ocasião, o monitoramento da USP contabilizou 18,3 mil pessoas, enquanto a Polícia Militar do Rio estimou o público em “mais de 400 mil”. A discrepância gerou polêmica, e os pesquisadores reiteraram a importância de métodos científicos para aferição de público.
Críticas ao STF e defesa da anistia
Assim como no Rio, manifestantes levaram cartazes contra ministros do Supremo Tribunal Federal, especialmente Alexandre de Moraes, que conduz processos relacionados aos atos do 8 de janeiro. Bolsonaro e seus aliados defenderam de forma veemente o projeto de anistia aos condenados.
Para o ex-presidente, os julgamentos relacionados ao 8 de janeiro fazem parte de uma perseguição política. “Não podemos permitir que brasileiros sejam presos por se manifestar. O povo tem o direito de se expressar sem medo”, disse Bolsonaro.
Atos simbólicos e clima de campanha
O evento teve ainda forte apelo simbólico: além do colete à prova de balas, Bolsonaro apareceu ao lado da esposa Michelle Bolsonaro, que também discursou, aumentando os sinais de que o clã Bolsonaro pode lançar outro nome à presidência em 2026.
A estética do evento, com bandeiras do Brasil, camisetas verde e amarelo e palavras de ordem, remeteu aos momentos de campanha do ex-presidente. Nas falas, além de ataques ao Judiciário, foram feitas promessas e convocação da base para se manter mobilizada.
Próximos passos e reação do governo
Até o fechamento desta reportagem, o Palácio do Planalto não havia se manifestado oficialmente sobre a manifestação. No entanto, parlamentares da base governista criticaram o teor dos discursos e a mobilização em torno da anistia, considerando-a uma ameaça ao Estado democrático de direito.
Setores progressistas e defensores dos direitos humanos também se manifestaram nas redes, afirmando que atos que relativizam crimes cometidos durante ataques às instituições não podem ser tolerados sob o pretexto de liberdade de expressão.