Moeda chinesa é desvalorizada a 7,351 por dólar, acendendo alerta sobre impactos nas exportações e na guerra tarifária com os Estados Unidos
O yuan chinês atingiu nesta quinta-feira (10) sua cotação mais baixa em quase duas décadas, diante de crescentes tensões comerciais com os Estados Unidos. A moeda caiu para 7,351 por dólar americano — o menor valor desde o final de 2007 — antes de recuperar levemente para 7,342, segundo dados da Reuters. A queda alimenta especulações sobre uma possível estratégia do governo chinês para aliviar a pressão sobre exportadores, num momento em que a guerra comercial entre as duas maiores economias do mundo ganha novos capítulos.
A movimentação ocorre num contexto delicado para a economia global e foi acompanhada de perto por mercados e autoridades internacionais. O Banco Popular da China, responsável pela gestão do yuan e pela definição da taxa de referência diária, ajustou o câmbio oficial para 7,209 yuans por dólar, indicando uma postura mais flexível em relação à valorização da moeda nacional.

Foto: Reuters
Exportações em foco
Para analistas, a desvalorização do yuan pode representar uma manobra estratégica do governo chinês para impulsionar as exportações, principal motor da economia do país. Com a moeda mais fraca, os produtos chineses ficam mais baratos no mercado internacional, aumentando a competitividade de empresas locais e, ao mesmo tempo, neutralizando parte dos efeitos das tarifas impostas pelos Estados Unidos.
“Ao tornar seus produtos mais acessíveis, a China tenta equilibrar os efeitos da guerra comercial e manter sua participação nos mercados globais”, explica Liu Yang, economista especializado em comércio internacional.
O movimento, porém, reacende preocupações do outro lado do Pacífico. O secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, alertou nesta quarta-feira (9) que a manipulação cambial pode gerar um efeito dominó sobre as tarifas. “Se a China começar a desvalorizar, isso será um imposto sobre o resto do mundo, e todos terão que continuar aumentando suas tarifas para compensar a desvalorização”, afirmou em entrevista à Fox Business Network.
Mercado offshore também recua
A desvalorização do renminbi não se limitou ao mercado doméstico. No mercado offshore — voltado para transações internacionais e mais suscetível a flutuações — a moeda atingiu o patamar histórico de 7,429 por dólar, a menor cotação desde a criação desse sistema em 2010. Posteriormente, o renminbi offshore também recuperou parte das perdas.
A pressão sobre a moeda reflete uma combinação de fatores, incluindo desaceleração econômica interna, tensões geopolíticas e a necessidade de proteger a base exportadora da China, que continua sendo um pilar essencial da sua balança comercial.
Guerra comercial volta ao centro das atenções
As relações comerciais entre China e Estados Unidos voltaram a se deteriorar nos últimos meses. As novas tarifas impostas pela administração Trump sobre produtos chineses reacenderam o debate global sobre protecionismo, câmbio e práticas comerciais desleais.
Embora o governo chinês afirme não desejar uma guerra comercial, autoridades de Pequim também têm reiterado que estão prontas para responder às tarifas com medidas proporcionais. A recente queda do yuan pode ser vista como parte dessa estratégia de contra-ataque, sem recorrer diretamente a sanções ou barreiras comerciais.
“Eu os encorajo a não fazerem isso e a se sentarem à mesa”, declarou Bessent, ao pedir que a China evite recorrer à política cambial como resposta direta às tarifas norte-americanas.
Impacto global e possíveis reações
A desvalorização do yuan tem implicações que ultrapassam o eixo Pequim-Washington. Em um cenário de globalização e cadeias produtivas interdependentes, variações cambiais na China afetam desde bolsas de valores até os preços de commodities, pressionando também moedas de mercados emergentes.
Economistas alertam que uma possível guerra cambial pode surgir caso outras economias decidam desvalorizar suas próprias moedas para proteger suas exportações diante da nova cotação chinesa.
“O risco é que isso gere um efeito cascata. Se o yuan continuar enfraquecendo, países concorrentes em exportações podem se sentir pressionados a fazer o mesmo. E isso cria instabilidade em toda a economia global”, alerta o analista financeiro europeu Martin Koenig.
Histórico de controle cambial
Apesar de flutuar em relação ao dólar, o yuan segue amplamente controlado pelo Banco Popular da China, que interfere regularmente por meio de uma taxa de referência diária e limites de oscilação. Nos últimos anos, Pequim tem alternado períodos de maior liberdade cambial com momentos de forte intervenção, dependendo da conjuntura econômica e da política externa.
A atual desvalorização, porém, sugere uma postura mais permissiva do banco central diante das pressões comerciais, ao mesmo tempo em que tenta evitar uma fuga de capitais ou uma perda abrupta de confiança dos investidores.
O que esperar a partir de agora
A tendência do câmbio chinês dependerá, em grande parte, dos próximos movimentos diplomáticos e econômicos entre China e Estados Unidos. O yuan mais fraco pode favorecer a economia doméstica a curto prazo, mas também pode levar a reações duras de Washington e provocar maior volatilidade nos mercados globais.
Enquanto isso, o governo chinês tenta manter uma posição equilibrada: estimular o crescimento sem provocar pânico financeiro ou alimentar o discurso internacional de manipulação cambial. A balança é delicada — e os próximos capítulos da disputa comercial dirão se o yuan continuará caindo ou se encontrará um novo ponto de estabilidade.