Rodrigo Manga teve ativos congelados desde 2023 em processo que apura irregularidades na aquisição de kits educacionais por R$ 26,2 milhões

Foto: Redes Sociais
Mesmo reeleito com uma das maiores votações do país e ativo nas redes sociais, o prefeito de Sorocaba, Rodrigo Manga (Republicanos), ainda enfrenta na Justiça um bloqueio de bens milionário, relacionado a uma compra considerada suspeita de kits de robótica para a rede municipal de ensino. A medida, determinada em maio de 2023 pelo Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (TJ-SP), ainda está em vigor, segundo confirmou a própria Prefeitura de Sorocaba.
A investigação, que resultou no congelamento de R$ 26,2 milhões em bens, faz parte de um processo de improbidade administrativa que apura possível superfaturamento na aquisição de 30 mil kits. A compra foi feita no final de 2021, com valor unitário declarado de R$ 740, enquanto, segundo a denúncia, havia kits semelhantes no mercado variando de R$ 14 a R$ 29.
Além do prefeito, também foram atingidos pela medida o então secretário de Educação, Márcio Carrara, e a empresa fornecedora dos materiais, a Carthago Editorial. “Defiro o pedido de indisponibilidade de bens dos requeridos, limitado ao montante do dano ao erário”, determinou a juíza Karina Jemengovac Perez, em decisão judicial de 2023.
Prefeitura diz que contrato foi aprovado por tribunal
Em nota enviada à imprensa, a Prefeitura de Sorocaba informou que os bens de Rodrigo Manga seguem bloqueados, mas reforçou que o contrato passou por avaliação e foi aprovado por unanimidade pelo Tribunal de Contas do Estado de São Paulo (TCE-SP), que teria reconhecido a regularidade do processo de aquisição.
“A questão do bloqueio de bens está sob-júdice e acredita-se que, no momento oportuno, os bens serão desbloqueados, por questão de justiça”, afirma a administração municipal.
O processo segue em tramitação na Justiça e a defesa de Manga ainda não se manifestou oficialmente sobre os desdobramentos atuais. A CNN informou que aguarda resposta após entrar em contato com os advogados do prefeito.
Ex-secretário foi exonerado e teve processo arquivado
Um dos envolvidos no processo, Márcio Carrara, deixou o cargo em fevereiro de 2024. Ele ocupava a secretaria de Educação desde o início da gestão de Rodrigo Manga, em 2021. Segundo os autos, as determinações judiciais contra Carrara foram suspensas por decisão do juiz Alexandre de Mello Guerra em janeiro de 2024, e o processo contra ele foi arquivado em novembro do mesmo ano.
Operação da PF amplia pressão sobre gestão Manga
Na última quinta-feira (10), Rodrigo Manga voltou ao noticiário ao se tornar um dos alvos da operação “Copia e Cola”, da Polícia Federal. A ação investiga o desvio de recursos públicos destinados à área da saúde em Sorocaba e em outras 11 cidades do estado de São Paulo, além de Vitória da Conquista, na Bahia.
Durante as diligências, agentes cumpriram mandados de busca e apreensão na sede da Prefeitura de Sorocaba, na Secretaria de Saúde, no diretório municipal do Republicanos — partido do prefeito — e na residência do então secretário de Administração. Rodrigo Manga confirmou que teve seu carro e telefone celular apreendidos pela PF.
Manga diz que operação tem motivação política
O prefeito se manifestou sobre a operação federal em suas redes sociais e em entrevistas. “Sabe o que acharam aqui na minha casa? Nutella e o Pokémon que o meu filho brinca… e bolo de cenoura”, ironizou. Para ele, a ação da Polícia Federal tem cunho midiático e político: “Você vê que é uma ação política para levar exposição na mídia.”
A defesa do prefeito também se posicionou, afirmando que a operação foi recebida com “surpresa” e criticou o que chamou de tentativa de “pesca probatória” — uma investigação sem elementos prévios, com o objetivo de encontrar indícios durante o processo.
“Não existe qualquer elemento, mínimo que fosse, que pudesse relacionar o prefeito a atos ilícitos”, afirmam os advogados em nota. A defesa também diz que “não se pode permitir que se faça uso político de nossa força policial, induzindo o Poder Judiciário em erro”.
Ascensão política e ambição nacional
Apesar da pressão judicial, Rodrigo Manga segue firme em sua trajetória política. Reeleito no primeiro turno das eleições municipais de 2024 com expressivos 73,75% dos votos válidos, ele ganhou notoriedade por sua atuação nas redes sociais, onde soma cerca de 3 milhões de seguidores no TikTok e outros 2,9 milhões no Instagram.
Na semana passada, anunciou publicamente que cogita disputar a Presidência da República em 2026, caso o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), decida tentar a reeleição. A declaração foi recebida com surpresa por analistas políticos, considerando os problemas judiciais que ainda envolvem seu nome.
Impacto político e jurídico
O caso coloca Rodrigo Manga no centro de uma discussão que mistura suspeitas de corrupção, protagonismo político e estratégias de comunicação digital. A manutenção do bloqueio de bens, por mais de dois anos, acentua a pressão sobre o prefeito e pode se tornar um obstáculo importante para seus planos de projeção nacional.
Ainda que a Prefeitura alegue regularidade no processo de compra e defenda que o TCE-SP aprovou os contratos, o processo na esfera judicial continua ativo e aguarda nova deliberação do TJ-SP. Nos bastidores, aliados políticos já demonstram preocupação com os desdobramentos e o desgaste junto à opinião pública.
Analistas apontam que, enquanto o desbloqueio de bens não for autorizado, o tema continuará a alimentar questionamentos sobre a transparência da atual gestão municipal.