Câmeras de segurança registraram o momento em que veículo passou por cima da vítima, que usava bengala; motorista foi liberada após prestar depoimento
Foto: Paula Moreira / TV Diário
Uma idosa de 83 anos morreu atropelada no fim da manhã desta quarta-feira (9), enquanto atravessava uma rua pela faixa de pedestres no Centro de Guararema, na Grande São Paulo. O acidente ocorreu por volta das 11h40, na rua Dona Laurinda, e foi registrado por uma câmera de segurança que flagrou o momento do impacto.
A vítima, identificada como Yuriko Imai, atravessava calmamente com o auxílio de uma bengala quando foi atingida por um carro que fazia uma conversão. O veículo passou por cima da idosa, que morreu na hora. O carro seguiu por alguns metros após o impacto e parou logo em seguida.
Segundo a Polícia Militar, a condutora do veículo, uma professora de 36 anos, permaneceu no local visivelmente abalada. De acordo com o boletim de ocorrência, os documentos da motorista e do carro estavam em dia, e o teste do bafômetro descartou a ingestão de álcool.
“A motorista estava nervosa e foi acalmada por pessoas que passavam pelo local, enquanto o Samu era acionado”, informa trecho do registro policial. Uma médica do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência atestou o óbito no local.
A ocorrência foi registrada como homicídio culposo na direção de veículo automotor — quando não há intenção de matar. A motorista foi encaminhada para a Delegacia de Polícia de Guararema, onde prestou depoimento. Por não haver flagrante, e considerando as circunstâncias, ela foi liberada. O caso segue sob investigação.
Imagens reforçam gravidade do caso
As imagens captadas pela câmera de segurança mostram claramente que Yuriko Imai já estava no meio da travessia quando o veículo virou e a atingiu. A cena, rápida e impactante, evidencia um dos maiores riscos enfrentados por pedestres, especialmente os idosos, mesmo em locais considerados seguros como a faixa de pedestres.
De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Guararema tem pouco mais de 31 mil habitantes e costuma ser vista como uma cidade tranquila. No entanto, o caso reacende o alerta para os perigos no trânsito urbano e a necessidade de atenção redobrada de motoristas em áreas centrais e com grande circulação de pedestres.
Reações e apelo por mais segurança
A morte de Yuriko gerou comoção na cidade. Vizinhos e comerciantes da região onde ocorreu o acidente relataram que a idosa era bastante conhecida e costumava sair para pequenas caminhadas diárias.
“Ela era uma senhora muito ativa para a idade. Sempre gentil e educada. Usava bengala, sim, mas andava com firmeza. É muito triste o que aconteceu”, comentou um comerciante que preferiu não se identificar.
Moradores também cobraram melhorias na sinalização e maior fiscalização da velocidade dos veículos no Centro. “A rua Dona Laurinda é estreita, mas os carros passam rápido. Já era um acidente anunciado”, afirmou uma moradora.
O que diz a legislação
Conforme o Código de Trânsito Brasileiro, o motorista que, mesmo sem intenção, causa a morte de outra pessoa ao dirigir pode responder por homicídio culposo. A pena pode variar de dois a quatro anos de detenção, além de suspensão ou proibição do direito de dirigir. Em casos com agravantes, como excesso de velocidade ou embriaguez, o crime pode ser qualificado e ter a pena aumentada.
Neste caso, como a motorista não apresentava sinais de embriaguez e estava com a documentação em ordem, a delegacia optou por não lavrar o auto de prisão em flagrante. Um inquérito foi instaurado para apurar as responsabilidades. A Polícia Científica foi acionada para realizar a perícia no local.
Desdobramentos e investigação
A Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo (SSP-SP) informou, em nota, que a investigação irá analisar as imagens do circuito de segurança, ouvir testemunhas e avaliar laudos periciais para esclarecer os detalhes do acidente. A condutora também deve ser chamada novamente para depoimentos complementares.
Enquanto isso, o corpo de Yuriko Imai foi encaminhado ao Instituto Médico Legal (IML) de Mogi das Cruzes. Familiares ainda não se pronunciaram oficialmente sobre o caso, mas amigos próximos organizam uma despedida em homenagem à idosa.
Reflexão sobre o trânsito e o envelhecimento
Casos como o de Yuriko revelam como a mobilidade urbana ainda representa um desafio para a população idosa no Brasil. Segundo o Conselho Nacional de Trânsito (Contran), os idosos estão entre os grupos mais vulneráveis no trânsito, especialmente ao atravessarem vias públicas.
Estatísticas do Ministério da Saúde mostram que, em 2023, mais de 1.200 idosos morreram em acidentes de trânsito no Brasil, a maioria como pedestres. Especialistas alertam que políticas públicas mais efetivas, sinalização adequada e educação no trânsito são fundamentais para proteger essas vidas.
